" Potência Fashion das Periferias: A Influência do Funk e Rap na Moda Brasileira".

07/04/2023

Nois e Mc, empresária, fashion icon, as mais braba - Tasha&Traice

O funk e rap, gêneros musicais popularizados nas favelas do Brasil, possuem desde sempre uma relação íntima com a moda. Além de suas batidas envolventes e letras marcantes, são estilos conhecidos por trazerem consigo uma estética única, que reflete a identidade e o estilo de vida das comunidades e de seus ouvintes.

Periferia e moda; uma relação cheia de "perrecos"

Sendo mais do que apenas gêneros musicais, esses ritmos representam uma expressão cultural que influencia diretamente a estética nas comunidades periféricas, o óculos, ou lupa, no modelo "Juliet", é uma das grandes tendências surgidas na quebrada, bem como as camisas de time, a popularização da lacoste como parte do vestuário casual.

Ditando tendências que refletem a realidade das periferica os artistas de rap, trap e funk são verdadeiros ícones de estilo, a moda dentro das periferias vai além de roupas e acessórios, é uma expressão autêntica que reflete a identidade, a criatividade e o estilo de vida dessas comunidades. Apesar da sua riqueza e relevância, em um ambiente que não é propício nem os maiores talentos sobrevivem, diversos artistas e estilistas não chegam ao mínimo de reconhecimento por um simples fator: a marginalização e os estigmas que essa estética carrega consigo.

O receio das grifes em colaborar com artistas de periferias:

As letras de funk e trap frequentemente mencionam marcas e produtos de forma positiva, apesar do impacto e publicidade gratuita vindo de artistas como Kyan, MD chef e vários outros nomes extremamente relevantes, muitas grifes demonstram um receio em colaborar com artistas desse gênero.

Uau, uau, Kyan OG, menor de favela
É a tropa da lacoste

Tropa da lacoste - Kyan 

O episódio ocorrido em 2021 com a grife francesa Lacoste é um exemplo muito claro do desgosto em estar associados a periferias. No lançamento inédito de um perfil voltado apenas para um país a lacoste acabou escorregando ao não chamar nenhuma figura do funk ou do rap para protagonizar uma campanha publicitária, a repercussão com os fãs e consumidores da marca foi extremamente negativa, pois nenhum dos artistas que estavam na campanha representavam o real consumidor lacoste.

Entretanto a marca contornou a polêmica ao convocar MD chefe, Mc Drika, Hariel e varias outras personalidades para serem estrelas de um fashion film. Foi a partir daí que a marca percebeu que figuras como os artistas citados, poderiam trazer muito mais engajamento para a marca no Brasil. Atualmente o país vem consumindo lacoste em um nível tão grande que a marca tem lançado produtos exclusivos para os consumidores brasileiros.

Tantas exclusividades e tantas estratégias são reflexo da importância do mercado brasileiro para a marca. Atualmente o Brasil está entre os 4 principais mercados de lacoste no mundo. Ainda que exista críticas vindas de um público conservador a marca elaborou esse posicionamento de imagem completamente ciente de quem a consome, atualmente a lacoste está tentando a todo custo firmar seus laços com a periferia que é seu real público consumidor aqui no brasil.

Loja da Lacoste no Morumbi Shopping – Ernesto Andrade / Divulgação
Loja da Lacoste no Morumbi Shopping – Ernesto Andrade / Divulgação


A apropriação de culturas e tendências da periferia:

Um aspecto crucial a ser considerado é a apropriação cultural de movimentos e tendências originárias de áreas marginalizadas. Funkeiros, trappers e rappers têm influenciado a cultura jovem em todo o país, inclusive jovens de classe média e brancos, que frequentemente adotam as mesmas tendências, gírias e ouvem as músicas que surgiram nas periferias. Não é atoa que se olha para esses espaços para pesquisas culturais e estéticas.

Mas, por vezes, essas manifestações estéticas só recebem atenção quando extrapolam a periferia pelas mãos de jovens brancos ou ricos. Isso não é exatamente uma surpresa: historicamente, diversos ritmos e estéticas foram embranquecidos para atingirem o sucesso no mainstream, como a house music, o samba (que virou bossa-nova nessa configuração), o soul e o blues, por exemplo.

Mesmo com toda sua popularidade e potência criativa, fica evidente que as marcas e publicitarios não querem sua imagem atrelada a esse tipo de vivências e histórias, o caso lacoste, citado anteriormente, se trata de apenas uma pequena exceção  em que o público periférico foi de fato ouvido e considerado como consumidor.

A moda e principalmente o luxo, sempre foram utilizados como ferramentas de diferenciação social e de classes: a partir do momento em que a periferia bate no peito e diz estar vestindo as marcas de moda de luxo, que já foram símbolo de sua opressão, ela inverte esses valores. - Afirma Fernanda Souza, jornalista e fotógrafa focada nas manifestações culturais periféricas para a FFW news.




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